Setembro–Outubro de 2025 no calendário litúrgico: um itinerário de misericórdia à luz do Bom Samaritano
Setembro costuma marcar um ponto de virada no nosso ritmo anual: voltam as rotinas, recomeçam projetos e, para muitas paróquias, intensificam-se as atividades de catequese e pastoral. Na vida da Igreja, esse período nos coloca no coração do Tempo Comum, com domingos do Ano C que nos desafiam a viver a fé no cotidiano. E há um fio condutor que pode costurar todo esse período: a espiritualidade do Bom Samaritano. Ao revisitarmos a parábola que Jesus conta em Lucas 10,25-37, encontramos um mapa confiável para atravessar as semanas de setembro e início de outubro de 2025, iluminando cada domingo e cada festa com a luz concreta da caridade que se faz gesto.
Este guia reúne, de um lado, a memória viva do calendário proposto para setembro de 2025 e início de outubro, com seus domingos do Tempo Comum e celebrações marcantes; de outro, o horizonte espiritual da parábola do Bom Samaritano e exemplos atuais que mostram como essa palavra de Jesus continua a ganhar carne hoje. O objetivo é simples e desafiador: ajudar você, sua família e sua comunidade a olhar o próximo com o coração de Cristo e a transformar o tempo litúrgico em tempo de graça e serviço.
Por que revisitar o Bom Samaritano agora?
Na parábola, Jesus responde a um legista que o interpela sobre a vida eterna. O diálogo passa do “o que devo fazer?” para “quem é o meu próximo?”, e então Jesus reconfigura a pergunta: a questão não é apenas quem merece meu amor, mas como eu me faço próximo de quem está ferido. O sacerdote e o levita veem e passam adiante. O samaritano vê, compadece-se, aproxima-se, trata as feridas, hospeda, cuida e investe recursos. Ao final, Jesus convida: “Vai e faze o mesmo.”
Essa mudança de foco é revolucionária e muito atual. No contexto bíblico, “próximo” tendia a designar os membros do próprio povo. Jesus alarga a fronteira: o próximo é todo ferido que encontro no caminho. E a caridade, para além de ideia, torna-se visível e mensurável em atos. O amor cristão aparece como resposta concreta que cura: ver com atenção, aproximar-se sem medo, tocar a dor, organizar ajuda, cooperar com outros, sustentar no tempo, assumir compromisso. É um caminho de discernimento prático: não basta saber a doutrina, é preciso aprender a aplicá-la no chão da vida.
- Ver: o amor começa por um olhar que não desvia.
- Comover-se: a compaixão move de dentro para fora.
- Proximidade: vencer o medo, atravessar a rua e chegar perto.
- Cuidado: tratar feridas com o que se tem (óleo e vinho), hoje traduzidos em tempo, escuta, competência.
- Hospitalidade: integrar redes de apoio (a “estalagem”) e confiar responsabilidades.
- Compromisso: investir recursos e voltar para acompanhar.
- Cooperação: o bem floresce quando mais pessoas entram na história (o hospedeiro também se fez próximo).
Ao deixar a parábola ressoar, percebemos como ela conversa com os Evangelhos dominicais do Ano C nesta época e com as festas que setembro nos apresenta. O caminho espiritual do Bom Samaritano pode, de fato, orientar nosso percurso litúrgico.
Panorama do mês: datas para marcar no coração
Setembro de 2025 transcorre entre as semanas XXII a XXVI do Tempo Comum (anos ímpares) e traz domingos do 23º ao 26º. Além disso, celebramos memórias e festas queridas, especialmente marianas e de anjos e santos que nos ajudam a afinar o ouvido para a vontade de Deus. Eis um panorama geral para planejar e rezar:
- 1 a 6 de setembro: Tempo Comum, XXII Semana (segunda a sábado).
- 7 de setembro: 23º Domingo do Tempo Comum – Ano C.
- 8 de setembro: Natividade da Virgem Santa Maria; e, no ritmo semanal, início da XXIII Semana do Tempo Comum.
- 9 a 13 de setembro: continuidade da XXIII Semana do Tempo Comum (terça a sábado).
- 14 de setembro: 24º Domingo do Tempo Comum – Ano C; Festa da Exaltação da Santa Cruz. Nota: conforme as rubricas, a Festa do Senhor pode ter precedência sobre o domingo do Tempo Comum; acompanhe as indicações do seu calendário diocesano.
- 15 a 20 de setembro: XXIV Semana do Tempo Comum (segunda a sábado), com Nossa Senhora das Dores no dia 15.
- 21 de setembro: 25º Domingo do Tempo Comum – Ano C; memória de São Mateus, Apóstolo. Nota: em geral, o domingo do Tempo Comum prevalece; ver orientações locais para eventuais menções no Ofício.
- 22 a 27 de setembro: XXV Semana do Tempo Comum (segunda a sábado).
- 28 de setembro: 26º Domingo do Tempo Comum – Ano C.
- 29 e 30 de setembro: XXVI Semana do Tempo Comum; 29: Santos Miguel, Gabriel e Rafael, Arcanjos.
- 1 a 4 de outubro: XXVI Semana do Tempo Comum segue; 1: Santa Teresinha do Menino Jesus; 2: Santos Anjos da Guarda; 4: São Francisco de Assis.
Esse quadro nos oferece uma pauta simples: domingos que formam a consciência do discípulo e festas que afinam o coração para a misericórdia. Em todo esse período, a pergunta de Jesus ecoa: “Qual destes se fez próximo?” Vamos ver como essa lente ilumina cada domingo e cada celebração.
Domingo a domingo (Ano C): discípulos que veem, se aproximam e cuidam
Os Evangelhos dos domingos do Ano C nesta fase do calendário falam diretamente da lógica do Bom Samaritano, embora contem histórias diferentes. Essa sintonia é um presente, pois nos ajuda a articular um caminho espiritual coerente, semana após semana.
- 23º Domingo (7/9): Jesus convida ao discipulado sem reservas, a pôr o Reino acima de cálculos e a carregar a cruz. A lente do Bom Samaritano aqui nos provoca: sem desapego, não atravessamos a rua para socorrer; sem liberdade interior, ficamos parados no lado “seguro” da calçada. Proposta concreta: revisar o uso do tempo para incluir um serviço semanal ao próximo.
- 24º Domingo (14/9): Em muitas comunidades, celebra-se a Exaltação da Santa Cruz. Se o Evangelho do domingo do Tempo Comum (Ano C) inclui parábolas da misericórdia (Lc 15), a Cruz é sua fonte e cume. Pela lente do Bom Samaritano, a Cruz é o óleo e o vinho derramados por Cristo em nossas feridas. Proposta concreta: escolher um gesto de reconciliação e outro de compaixão concreta ao longo da semana.
- 25º Domingo (21/9): A parábola do administrador prudente (Lc 16) desafia a usar os bens com visão de Reino. O Bom Samaritano ensina que caridade custa tempo e recurso. Proposta concreta: estabelecer um “fundo do próximo” familiar ou comunitário, com uma porcentagem fixa da renda para necessidades reais que surgem no caminho.
- 26º Domingo (28/9): O rico e Lázaro (Lc 16) revelam o risco do coração anestesiado. O Bom Samaritano faz o oposto: vê, pára e se move. Proposta concreta: um “jejum de indiferença” – delimitar momentos semanais para sair ao encontro de quem sofre (visita, escuta, voluntariado), deixando que o encontro nos converta.
Dessa forma, cada domingo acende uma faceta da mesma luz: a fé que se torna proximidade, a esperança que organiza a ajuda, a caridade que cuida de feridas e transforma o ambiente em casa para quem precisa.
Sete práticas do Bom Samaritano para esta temporada
Para ajudar a transformar intenção em hábito, eis sete práticas simples e sequenciais, inspiradas diretamente na parábola, que você pode adotar individualmente, em família ou na paróquia:
- 1) Atenção que não desvia: treinar o “olhar longo” em casa, no trabalho, na comunidade. Tarefa da semana: duas vezes por dia, parar um minuto para notar quem está por perto e perguntar “o que esta pessoa precisa?”
- 2) Passos em direção: a proximidade começa com o corpo. Tarefa da semana: escolher uma situação desconfortável e dar um passo (ligar, abordar, oferecer ajuda).
- 3) Primeiros socorros espirituais: óleo e vinho hoje podem ser escuta sem julgamento, palavra que consola, informação que orienta, contato que abre portas. Tarefa: ter à mão contatos de serviços úteis (saúde, assistência, pastoral, psicologia).
- 4) Hospitalidade concreta: criar espaços e tempos de acolhimento real. Tarefa: uma refeição partilhada por semana com alguém que precise de companhia ou suporte.
- 5) Generosidade organizada: caridade sem improviso cansa; com método, frutifica. Tarefa: definir uma porcentagem mensal para caridade e prestação de contas simples.
- 6) Acompanhamento e retorno: prometer voltar – e voltar. Tarefa: agenda de follow-up com quem você ajudou, para garantir continuidade e rede.
- 7) Cooperação em rede: envolver a “estalagem” – pastorais, serviços públicos, profissionais. Tarefa: mapear, com a comunidade, parceiros locais para encaminhamentos responsáveis.
Histórias que inspiram: bons samaritanos hoje
Se a parábola é o norte, as histórias atuais são o vento nas velas. Recentemente, diferentes relatos têm mostrado como a compaixão se torna notícia – e como gestos simples podem salvar vidas e renovar cidades. Veja alguns exemplos que podem alimentar a criatividade pastoral e pessoal:
- Uma cidade que carrega uma livraria: numa pequena comunidade dos Estados Unidos, centenas de moradores formaram uma corrente humana e, livro por livro, mudaram uma livraria de lugar. O gesto coletivo mostrou que a cultura do cuidado pode, literalmente, mover estruturas – quando cada um carrega um pedaço, o impossível vira possível.
- Adolescente guia trilheiros para a segurança: durante um incêndio em parque nacional, uma jovem de 18 anos assumiu a liderança e conduziu pessoas em risco para um caminho seguro. Em emergências, coragem e presença de espírito são “óleo e vinho” que estancam o pânico e abrem saídas.
- Atleta para para levantar a concorrente: numa prova de velocidade, uma velocista interrompeu sua corrida para ajudar outra que caiu. A lógica do Reino subverte a lógica da competição: cuidado primeiro, pódio depois.
- Barbeiros que salvam vidas: profissionais de barbearias populares aprenderam técnicas básicas de intervenção em crises e se tornaram pontos de apoio em saúde comunitária. Fazer-se próximo inclui capacitar quem já está no território para cuidar melhor.
- Fama a serviço de uma criança perdida: uma atriz conhecida interrompeu gravações para ajudar uma criança que se perdera dos pais. Fama, visibilidade e recursos podem – e devem – ser colocados a serviço do vulnerável.
- Gratidão que atravessa gerações: uma família chinesa recordou publicamente benfeitores negros que, décadas atrás, os ajudaram a superar barreiras de discriminação. A memória agradecida é também forma de justiça e reparação.
- Ex-jogador intervém para proteger idoso: um atleta, treinado para a velocidade, usou seus reflexos para deter uma agressão e proteger um vulnerável. A técnica ganha sentido quando se dobra em favor do fraco.
- Palavras de um estranho salvam uma vida: em crise profunda, uma jovem encontrou numa conversa casual o ponto de luz que a impediu de um gesto extremo. Às vezes, o que temos a oferecer é simples e decisivo: atenção, respeito, presença.
- Da beira da ponte ao cuidado dos outros: quem quase desistiu da própria vida tornou-se ponte para outras pessoas em sofrimento. Feridas curadas se convertem em bálsamo para muitos.
Essas histórias, tão diversas, têm um padrão comum: alguém viu, aproximou-se e assumiu responsabilidade. Elas mostram que o Bom Samaritano é um retrato realista do que podemos ser – em casa, na rua, no trabalho, na paróquia.
Como celebrar as festas com a chave da misericórdia
Natividade de Nossa Senhora (8/9): a alegria que prepara caminhos
Nascimento de Maria é prenúncio de proximidade: Deus se faz próximo em uma família concreta, numa aldeia específica, em uma história real. Pela lente do Bom Samaritano, Maria é aquela que educa para a atenção, o cuidado, a visita (como em sua ida a Isabel).
- Gestos: visitar uma gestante ou puérpera; montar um “enxoval solidário” com a comunidade; rezar por famílias em crise; oferecer escuta a mães solo.
- Na liturgia: incluir preces pelas famílias e por quem cuida de crianças e idosos; destacar Maria como “mãe da proximidade”.
Exaltação da Santa Cruz (14/9): o amor que se inclina
A Cruz é a “curvatura” de Deus em direção a nós. O Bom Samaritano se inclina para cuidar; na Cruz, Cristo se inclina até o chão do nosso sofrimento. Contemplar a Cruz nos dá coragem para aproximar-nos de dores alheias sem medo.
- Gestos: um momento comunitário de adoração ou veneração da Cruz com convite explícito à reconciliação; mutirão de visitas a doentes; doação de sangue como ato comunitário.
- Na liturgia: homilia que conecte Cruz e misericórdia concreta; bênção especial de cuidadores e profissionais de saúde.
Nossa Senhora das Dores (15/9): compaixão que permanece
Maria permanece aos pés da Cruz: presença silenciosa, firme e fiel. O Bom Samaritano não apenas inicia, ele permanece ao deixar o ferido na estalagem e prometer retorno. Permanecer é uma forma de amar.
- Gestos: criar grupos de escuta para enlutados; oferecer acompanhamento a quem cuida de familiares doentes; organizar um “mapa da proximidade” para sustentar casos complexos ao longo do tempo.
- Na liturgia: preces pelos que “ficam” junto ao sofrimento (mães, pais, cuidadores, profissionais); rito simples de consolação aos enlutados.
São Mateus (21/9): vocação que transforma a mesa
Mateus, cobrador de impostos, é chamado à mesa e torna a própria casa lugar de encontro. Pela lente do Bom Samaritano, a mesa torna-se “estalagem” – espaço de cura e amizade social.
- Gestos: jantar da misericórdia (famílias acolhem convidados em vulnerabilidade); roda de reconciliação em grupo de trabalho ou pastoral; iniciar um “clube da escuta” mensal.
- Na liturgia: bênção de agentes públicos e profissionais de finanças, pedindo ética e sentido de serviço ao bem comum.
Arcanjos (29/9): mensageiros, protetores, curadores
Miguel defende, Gabriel anuncia, Rafael acompanha e cura. A parábola mostra que a caridade tem essas três dimensões: defesa dos vulneráveis, anúncio que orienta e encoraja, acompanhamento que cura feridas no caminho.
- Gestos: rezar e agir pela proteção de crianças e idosos; campanha paroquial de prevenção de violências; formação para agentes de acolhimento.
- Na liturgia: bênção de voluntários da pastoral social, catequistas e equipes de acolhida.
Santa Teresinha (1/10): o pequeno caminho
Teresinha ensina a grandeza do pequeno gesto feito com amor. O Bom Samaritano não fez um “projeto grandioso”: usou o que tinha, no caminho. O segredo é constância e pureza de intenção.
- Gestos: “pequenas flores” diárias (mensagem que anima, bilhete de gratidão, ajuda silenciosa); compromisso de não falar mal de ninguém por uma semana.
- Na liturgia: ofertório com “flores” simbólicas de ações concretas que a comunidade se propõe a realizar.
Santos Anjos da Guarda (2/10): a arte de acompanhar
Os anjos guardam, guiam e sugerem o bem. Em chave samaritana, cada um de nós pode ser “anjo” para alguém, especialmente para crianças, idosos e quem passa por crise.
- Gestos: formar padrinhos de estudo, de fé ou de reinserção no trabalho; criar duplas de acompanhamento fraterno.
- Na liturgia: rito simples de envio para acompanhadores; bênção de crianças e educadores.
São Francisco de Assis (4/10): pobreza que libera para amar
Francisco atravessou a rua e abraçou o leproso. A liberdade interior gerada pela pobreza evangélica desbloqueia gestos ousados de proximidade. O coração despojado é mais leve para socorrer.
- Gestos: “troca solidária” (desapego de bens para partilha); mutirão ecológico como cuidado da casa comum; visita a quem vive nas ruas com equipe preparada.
- Na liturgia: bênção dos animais; preces pela paz e pela criação; convite a um estilo de vida mais simples.
Planejamento pastoral e familiar: um roteiro semana a semana
- 1 a 7 de setembro (XXII Semana; 23º Domingo): foco no desapego para servir. Ação: organizar agenda de voluntariado; catequese sobre “ver e aproximar-se”. Famílias: reservar uma hora para ajudar alguém do círculo de convivência.
- 8 a 14 de setembro (Natividade de Maria; XXIII Semana; Exaltação da Cruz): foco na hospitalidade e reconciliação. Ação: lanche comunitário com famílias; liturgia penitencial simples; visitas a doentes. Famílias: preparar uma refeição para partilhar com vizinhos.
- 15 a 21 de setembro (Nossa Senhora das Dores; XXIV Semana; 25º Domingo): foco na permanência e boa administração da caridade. Ação: instituir “fundo do próximo”; formar equipe de acompanhamento de casos. Famílias: definir porcentagem mensal para caridade e uma causa prioritária.
- 22 a 28 de setembro (XXV Semana; 26º Domingo): foco na conversão do olhar. Ação: roda de conversa sobre pobreza e dignidade; parceria com serviços sociais. Famílias: um gesto semanal de visita, escuta ou ajuda concreta a alguém vulnerável.
- 29 de setembro a 4 de outubro (Arcanjos; Teresinha; Anjos da Guarda; São Francisco): foco em defender, anunciar, acompanhar. Ação: mapear “rotas de proteção” para crianças e idosos; formar grupos de acompanhamento fraterno; mutirão ecológico. Famílias: escolher um “afilhado de proximidade” (alguém a acompanhar regularmente).
Liturgia e vida: notas práticas para comunidades
- Homilia com ponte para a ação: em cada domingo, terminar com uma proposta simples de compromisso comunitário (ex.: “nesta semana, cada família vai…”).
- Preces dos fiéis encarnadas: nominar realidades locais (hospital da cidade, pessoas em situação de rua do bairro, escolas da paróquia) para educar o coração à proximidade.
- Ofertório significativo: além do pão e do vinho, apresentar símbolos de ações de caridade programadas (kit de higiene, contatos de rede de apoio, lista de voluntários).
- Comunicação paroquial: criar um “painel do Bom Samaritano” com relatos semanais de gestos de misericórdia (preservando a discrição e o respeito aos envolvidos).
- Parcerias responsáveis: mapear instituições confiáveis para encaminhamentos (saúde mental, assistência social, acolhida a migrantes), evitando improvisos e riscos.
- Formação breve: oferecer mini-encaminhamentos sobre escuta, primeiros cuidados emocionais e proteção de vulneráveis para voluntários.
Perguntas para exame pessoal e comunitário
- Quem está caído na “beira da minha estrada” esta semana e que eu tenho evitado ver?
- O que hoje me impede de atravessar a rua: medo, pressa, desconhecimento, preconceito?
- Que “óleo e vinho” concretos eu já tenho à mão para começar a cuidar?
- Com quem posso cooperar para que o cuidado seja responsável e sustentável?
- O meu uso de tempo e recursos reflete a prioridade do amor ao próximo?
- Volto para acompanhar ou desapareço após o primeiro gesto?
- De que maneira a Eucaristia está moldando meu olhar para me fazer próximo no cotidiano?
Pequeno roteiro de oração com a parábola
Reserve 15 minutos. Coloque-se diante de Deus. Peça a luz do Espírito. Leia lentamente a parábola do Bom Samaritano. Feche os olhos e entre na cena. Onde você está? Em que momento se encontra? Peça a graça de ver como Jesus vê. Depois, responda em oração:
- Gratidão: quando alguém foi samaritano para mim?
- Perdão: quando passei ao largo, como sacerdote ou levita?
- Pedido: a coragem de me aproximar e tocar feridas.
- Compromisso: um gesto concreto que farei nas próximas 48 horas.
Finalize com um Pai-Nosso e, se puder, anote seu compromisso em lugar visível. Se orar em grupo, partilhem brevemente e rezem uns pelos outros.
Para famílias, catequistas e grupos
- Famílias: escolham juntos um “projeto samaritano” trimestral (ex.: apoiar uma família migrante, visitar regularmente um asilo, reforçar merenda escolar de crianças carentes). Rezem uma Ave-Maria antes de sair de casa, pedindo olhos atentos.
- Catequese: dramatize a parábola com as crianças, depois proponha um “desafio de proximidade” por idade (escrever cartas para doentes, arrecadar itens de higiene, visitar alguém sozinho). Incluam uma conversa sobre segurança e responsabilidade nos gestos.
- Grupos de jovens: jornada “sem passar adiante” – um dia de missão no bairro, com escuta ativa, mapeamento de necessidades e parceria com pastorais sociais. Fechem com partilha e adoração.
- Pastoral da caridade: revisem fluxos de atendimento, prioridades e parcerias. Estabeleçam critérios transparentes, cuidado com voluntários (prevenção de burnout) e mecanismos de proteção aos beneficiários.
Economia do cuidado: administrar como o Bom Samaritano
O administrador prudente (25º Domingo) nos recorda: misericórdia exige gestão. Para que a caridade não se perca no improviso, vale observar alguns princípios:
- Planejar a generosidade: defina metas e percentuais (pessoa física e comunidade) e revise trimestralmente.
- Prestar contas: transparência gera confiança e adesão. Relatórios simples, acessíveis, com impacto real.
- Capacitar e proteger: formação básica em escuta, proteção e encaminhamento. Cuidar de quem cuida é parte da missão.
- Mapear riscos: adotar protocolos de segurança e ética em visitas e atendimentos. Amor e prudência caminham juntos.
Quando o domingo encontra a cidade
As histórias contemporâneas de “bons samaritanos” mostram que a liturgia dominical quer transbordar para as ruas. Uma cidade inteira pode mover uma livraria, um atleta pode parar a corrida para levantar outro, um barbeiro pode salvar uma vida. A força do Evangelho é justamente transformar gente comum em agentes extraordinários de cuidado comum. Ao sair da Missa, cada fiel carrega a missão de transformar calçadas em lugar de encontro e cura. É a “pastoral do cotidiano”: onde pisamos, Deus passa.
Conclusão: olhos abertos, passos próximos
Setembro e início de outubro de 2025 nos oferecem um itinerário precioso: domingos que formam o coração do discípulo, festas que afinam a compaixão, exemplos vivos que inspiram a agir. A parábola do Bom Samaritano amarra tudo com um laço simples e exigente: ver, aproximar-se e cuidar. Não é um programa para “outros” – é a nossa vocação batismal. Quando a Igreja vive assim, o Evangelho se torna palpável, e a cidade percebe a presença do Reino nas dobras da vida comum.
Que Maria, mãe da proximidade; os arcanjos, guardiões e mensageiros; Teresinha, com seu pequeno caminho; e Francisco, com seu abraço à pobreza e aos pobres, nos ajudem a caminhar com olhos abertos e passos próximos. E que, ao celebrarmos cada domingo e cada festa, saiamos sempre com a decisão renovada: hoje eu vou atravessar a rua.
E você, ao olhar para o seu calendário de setembro e início de outubro, que gesto concreto de “atravessar a rua” você se propõe a viver esta semana?






